Ed Carlos, 63, está no fundo de seu restaurante, o Ed Carnes, limpando a
churrasqueira após mais um dia de trabalho. Embora tenha deixado a
carreira musical aos 35 anos, o comerciante é até hoje lembrado como o
“Reizinho da Jovem Guarda” por ter sido apadrinhado por Roberto Carlos e
ter sido um dos artistas mais novos a fazer parte daquele movimento
musical, quando tinha apenas 13 anos.
Por volta das 15h, Ed dá por encerrada a jornada do dia no restaurante.
Com dificuldade para caminhar e falando com dificuldade, sequelas de um
AVC que sofreu há dez anos, ele conversou com a reportagem do UOL sobre
os 50 anos da Jovem Guarda, que serão completados no próximo sábado
(22). “É bastante tempo, não é?”, disse o artista, que também celebra
cinco décadas desde que iniciou a carreira. “Aquele foi um ótimo
período, todos éramos bons amigos”.
Rodrigo Capote/UOL
Ed Carlos em frente ao seu restaurante
O programa estreou na TV Record no dia 22 de agosto de 1965 e durou
apenas quatro anos, mas foi responsável por lançar diversos artistas e
moldar a cultura dos jovens da época. Daquele tempo, Ed mantém uma
grande amizade com Roberto Carlos, que é dono do prédio onde funciona o
restaurante.
“Quando eu sofri o AVC, a antiga dona queria que eu desocupasse o
imóvel, que era alugado. Carlos Alberto Braga, irmão do Roberto, que
sempre almoça aqui, soube disso e providenciou para que o cantor
comprasse o prédio”, revelou. “O Roberto nunca me cobrou nenhum aluguel.
Ele não me deixa pagar nem o IPTU. É um grande amigo”.
O restaurante, localizado no bairro do Cambuci, em São Paulo, respira a
Jovem Guarda. As paredes estão repletas de fotos de Ed no palco e,
principalmente, de Roberto Carlos. Mas há espaço nas paredes para todos,
como Wanderléa, Golden Boys, Erasmo Carlos, Vanusa, Cauby Peixoto, Trio
Esperança, Juca Chaves, entre outros. A maioria deles são clientes
cativos da churrascaria, cuja a especialidade é a tradicional Costela do
Edão, que Ed diz vender mais de 100kg toda semana. “A mais macia da
cidade”, garantiu.
O prédio tem três andares e o restaurante tem capacidade para 150
pessoas. No terceiro andar fica um escritório onde Roberto Carlos guarda
algumas coisas pessoais. “Mas eu não tenho acesso”, contou. Nos outros
andares ficam as mesas. O local tem dois palcos e sempre no último
sábado do mês Ed promove um baile dançante com show de artistas da Jovem
Guarda. Nesta sexta-feira (21), o grupo Demônios da Garoa fará show por
lá. No passado já se apresentaram Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e
Wanderléa.
Ele [Roberto Carlos] come carne sim. Adora a Costela do Edão” Ed Carlos, dono do restaurante Ed Carnes
A mulher Vânia, 54 anos, e os filhos Rafael, 26, e Vinícius, 23, se
revezam na administração do restaurante. Há quase um mês, o filho mais
velho de Ed, que também se chama Ed Carlos, morreu aos 28 anos em um
acidente de carro. Roberto ligou para o amigo para prestar suas
condolências e mandou uma coroa de flores. “Acho que nunca vou superar
essa dor”, disse emocionado. “Roberto disse que sabia como eu estava me
sentindo, já que ele também perdeu uma filha, a Ana Paula, que morreu em
2011 aos 45 anos”.
Ed Carlos em seu restaurante
Ed contou também que Roberto sempre vai ao restaurante quando está em
São Paulo, mas disfarçado para não chamar a atenção. “Ele come carne
sim. Adora a Costela do Edão. O médico disse para ele que era importante
continuar consumindo proteína animal”. Outro famoso que também adora a
costela é Jô Soares. “Ele manda vir buscar toda semana”.
O nome de batismo de Ed é Oscar Teixeira, mas depois de tanto tempo,
ninguém o chama assim. “Escolhi ‘Ed’ porque era o nome americano mais
comum na época. Já ‘Carlos’ é em homenagem ao Rei”, revelou. A amizade
entre os dois é tanta que Roberto o chama pelo carinhoso apelido de
“Biquinho”. Ed, por sua vez, chama Roberto de Zunga. “É a maneira como a
mãe dele o chamava”. No passado, os dois costumavam até sair para
pescar no interior de São Paulo e também na represa de Guarapiranga.
“Mas tem tempo que não vamos”, contou.
Embora a fama de Ed Carlos não tenha resistido aos 50 anos da Bossa Nova
tanto quanto resistiu Roberto Carlos, o empresário não tem do que
reclamar. “Deixei a carreira artística porque me casei e queria formar
uma família. Sou muito feliz com o que conquistei e com as amizades que
fiz”.
Fonte: Bol
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